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Variação espaço-temporal da abundânica em um ácaro de solo amazônico

Publicado: Quinta, 12 Abril 2018 Foto: Pedro Aurélio Pequeno e Alfredo Alexandrino

Como parte de sua tese de doutorado em Ecologia, Pedro Aurélio Costa Lima Pequeno usou um ácaro de solo, Rostrozetes ovulum, para testar, em uma área de floresta amazônica, as suposições de que os padrões espaciais observados na abundância de espécies são constantes no tempo, e que os padrões temporais de abundância são espacialmente estáveis. Os resultados foram publicados na revista Pedobiologia e mostraram que a distribuição de uma espécie pode ser altamente dinâmica, mesmo em solos abrigados de interior de floresta. Os dados têm implicações importantes para protocolos usados frequentemente na amostragem de fauna de solo. 

A abundância de espécies é um parâmetro ecológico fundamental. As dimensões espacial e temporal da abundância normalmente são avaliadas separadamente, de modo que sua interação e magnitude relativa não são claramente definidas. Por isso, este estudo procurou avaliar os dois parâmetros simultaneamente, e responder se a abundância varia mais no espaço ou no tempo, e se padrões espaciais são constantes no tempo e/ou se padrões temporais são constantes no espaço.

Para o estudo foi escolhido o ácaro oribatídeo, Rostrozetes ovulum, uma espécie cosmopolita, mas muito comum e abundante em solos de florestas tropicais. É um ácaro pequeno (200–500µm de comprimento), de vida curta, que se alimenta de folhiço. A espécie é partenogenética, o que provavelmente faz com que sua abundância seja regulada por processos independentes da densidade, e flutue mais que a abundância de espécies sexuadas. Outro aspecto que faz de R. ovulum um bom organismo-modelo para análise da dinâmica espaço-temporal da abundância de fauna de solo é que sua capacidade de dispersão é limitada, fazendo com que suas populações sejam altamente sedentárias, e provavelmente são fortemente afetadas por condições ambientais locais em pequena escala.  

Em regiões temperadas, a abundância de organismos de solo varia mais entre estações do que entre localidades dentro de estações. Condições ambientais são assumidamente mais estáveis nos solos abrigados no interior de florestas tropicais densas, mas não é claro se a variação sazonal em chuva nos trópicos tem o mesmo efeito sobre a fauna de solo que a variação sazonal em temperatura em latitudes mais altas. Por isso o estudo também procurou avaliar se há variação sazonal na abundância dos ácaros, e se a variação na abundância está relacionada à variação espacial de hábitat e/ou à variação temporal na precipitação. 

A amostragem foi realizada em uma área de floresta de terra-firme da Fazenda Experimental da UFAM, em Manaus, na Amazônia central. Vinte transectos de 20m de comprimento foram estabelecidos ao longo de igarapés (10 transectos) e em zonas mais altas, a pelo menos 150 m de distância de igarapés (10 transectos). Cada transecto foi amostrado nove vezes ao longo de um ano. Em cada ocasião de amostragem foi coletada uma amostra de solo por metro em cada transecto. Os ácaros foram contados em lupa binocular por amostra e transecto.     

A abundância dos ácaros variou mais no tempo que no espaço. A abundância se correlacionou com a precipitação, sendo que o número de ácaros diminuiu subitamente, quando a precipitação aumentou no período chuvoso. A abundância também diminuiu marcadamente com a chuva nos transectos em zona alta, enquanto que, ao longo dos igarapés, o número de ácaros foi consistentemente baixo ao longo do ano.  

A redução na abundância com o aumento da precipitação contrasta com correlações positivas entre abundância de fauna de solo e taxas de precipitação reportadas na literatura, o que pode estar relacionado com produção de liteira. Em floresta tropical a liteira tende a acumular mais em zonas altas que em vales de igarapés, e também é mais abundante em meses secos que em meses chuvosos. Portanto, a maior abundância de ácaros nas zonas altas em meses secos provavelmente refletiu a maior disponibilidade de liteira para alimentação e abrigo. Além disso, os vales de igarapés são mais propensos a encharcamento nos meses chuvosos, quando se tornam inóspitos para os ácaros.     

Os resultados sugerem que R. ovulum (e provavelmente outras espécies da fauna de solos) podem ser altamente suscetíveis aos efeitos das mudanças climáticas.  

O estudo conclui que o padrão de abundância da fauna de solo pode mudar drasticamente entre amostragens ao longo do ano, portanto avaliações baseadas em amostras pontuais no espaço e no tempo podem levar a inferências tendenciosas. Os autores recomendam que estudos de abundância de fauna de solo e seus fatores determinantes considerem as dimensões espacial e temporal em seu desenho amostral. 

O projeto de doutorado de Pedro Aurélio Pequeno no PPG-Ecologia-INPA foi orientado por Elizabeth Franklin, e co-orientado por Roy A. Norton e José Wellington de Morais.

A imagem mostra a micrografia de um indivíduo do ácaro oribatídeo, Rostrozetes ovulum.

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