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Morcegos amazônicos tem fobia lunar?

Publicado: Quarta, 21 Março 2018 Fotos: Oriol Massana-Valeriano e Adriá Lopez-Baucells

Em seu projeto de mestrado em Ecologia, Giulliana Appel testou se morcegos insetívoros reduzem sua atividade sob luar intenso no interior de uma floresta amazônica. A menor atividade de morcegos em noites de luar foi determinada para morcegos em outras regiões geográficas. Os resultados do estudo foram publicados na revista Mammalian Biology, e mostraram que cinco espécies de morcego se comportaram de modo variável em relação à intensidade do luar. 

Este foi o primeiro estudo a testar a ocorrência de fobia lunar em morcegos insetívoros tropicais em diferentes escalas temporais, e um de poucos a usar a intensidade de luar, e não as fases lunares, como variável preditora. 

A coleta de dados foi realizada na Reserva Ducke, uma área de 10.000 ha de floresta de terra firme situada próximo a Manaus, na Amazônia central. Detectores de ultrassom com gravação automática foram instalados em 10 parcelas permanentes de amostragem do sistema de monitoramento RAPELD instalado na reserva pelo Programa PPBio. A distância entre as parcelas variou de 1 a 6 km. A atividade de morcegos foi registrada de forma contínua desde o pôr-do-sol até o nascer-do-sol durante 53 noites na estação chuvosa (janeiro a maio) em 2013. 

Foram considerados apenas pulsos de ecolocação com intensidade mínima de 20 Db acima do ruído de fundo, e somente as espécies com mais de 10 regsitros por noite em, no mínimo, 10 noites escuras e 10 noites claras. Cinco espécies foram selecionadas e foram identificadas por comparação dos parâmetros de seus pulsos de ecolocação com os de uma biblioteca de referência de ultrassons de morcegos gravados nas reservas do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais - PDBFF. A atividade dos morcegos foi quantificada por meio do número de registros de ultrassons por hora em cada noite e parcela. A porcentagem de luminosidade lunar foi gerada com o programa Moontool 2.0. A atividade dos morcegos foi comparada entre noites escuras e claras (respectivamente, noites com 0-30% e 70-100% de luar). O efeito do luar sobre a atividade dos morcegos ao longo da noite foi analisado em noites com pelo menos quatro horas de luar e quatro horas sem luar, usando noites completamente sem luar e noites de luar constante como controles. Abertura de dossel foi usada para inferir quanta luz do luar penetra até o interior da floresta em cada parcela. 

Ao contrário do esperado, duas das cinco espécies, Pteronotus parnellii e Saccopteryx leptura, foram mais ativas em noites mais claras, provavelmente em função de que sua dieta é composta principalmente por insetos que são mais ativos em noites de luar. Duas outras espécies, Saccopteryx bilineata e Cormura brevirostris, foram igualmente ativas em noites claras e escuras, o que pode estar relacionado com a considerável adaptabilidade dessas espécies a diferentes microhabitats. Apenas uma espécie, Myotis riparius, foi muito mais ativa em noites escuras, possivelmente porque seu vôo se caracteriza por baixa capacidade de manobra, o que aumenta o risco de predação em noites mais claras. 

O efeito da intensidade de luar foi mais evidente na escala temporal mais longa, entre noites. Dentro de uma mesma noite, a atividade da maioria das espécies foi mais alta logo após o atardecer, tanto em noites escuras como em noites claras. Este padrão sugere que a necessidade de se alimentar no início do período de atividade é um fator preponderante, independentemente da intensidade luminosa. A maior atividade no início da noite também pode estar associada a um menor risco de predação neste período.

A resposta dos morcegos à intensidade de luar foi diferente em cada espécie e altamente dependente da escala temporal considerada. Provavelmente, características específicas como velocidade, tamanho corporal, capacidade de forragear em diferentes habitats e pressão de predação, condicionam a afinidade da espécie com maior ou menor luminosidade. Além disso, o baixo poder explanatório da análise de regressão dos dados de atividade dos morcegos em relação à intensidade de luar indica que condições meteorológicas como chuva, umidade e temperatura também podem influenciar a atividade de morcegos entre noites. 

O projeto de mestrado de Giulliana Appel no PPG-Ecologia-INPA foi orientado por Paulo Bobrowiec.

A imagem principal mostra um indivíduo de Pteronotus parnellii, a espécie mais frequentemente registrada durante o estudo. Este indivíduo foi fotografado em uma reserva do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais - PDBFF. A outra imagem mostra um espectrograma do ultrassom de P. parnellii gravado na Reserva Ducke.    

Mais informações sobre ultrassons de morcegos amazônicos estão disponíveis na biblioteca virtual de ultrassons de morcegos, Morcegoteca

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