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Adivinhe quem vem para jantar: visitantes em ninhos de gavião-real

Publicado: Segunda, 18 Dezembro 2017 Fotos: Helena Aguiar-Silva

Câmeras automáticas registraram várias espécies de vertebrados arbóreos em interação comensal, e até agressiva, em ninhos de gavião-real (Harpia harpyja) ou em sua proximidade. O estudo é parte da tese doutoral em Ecologia de Helena Aguiar-Silva sobre o uso de recursos por gaviões-reais, e foi recentemente publicado no Journal of Raptor Research.

Gaviões-reais são as maiores e mais poderosas aves de rapina em florestas úmidas neotropicais, e estão entre as maiores espécies de águia em todo o mundo. São predadores de topo de cadeia, que habitam o estrato de dossel, onde constroem seus ninhos sobre árvores emergentes. 

O grande tamanho dos ninhos de gavião-real propicia o acúmulo de matéria orgânica em decomposição de restos de presas e matéria vegetal, assim como o crescimento de epífitas, formando um microhabitat adequado para muitas espécies de invertebrados. Estes recursos podem ser atrativos para outros animais. 

Dez ninhos de gavião-real (nove em florestas de terra firme e um em área de cerrado) foram monitorados continuamente por camera trapping por períodos de 16 a 692 dias entre 2012 e 2016. Os ninhos se encontravam a alturas de 14 a 34 m. As câmeras foram instaladas aproximadamente 5 m acima dos ninhos, para minimizar distúrbios à rotina dos gaviões, e eram disparadas automaticamente por movimentos em sua proximidade. 

O monitoramento incluiu todas as fases reprodutivas dos gaviões-reais, desde a construção do ninho, acasalamento e oviposição, até a eclosão e todas as fases de desenvolvimento do filhote. 

Em total 27 espécies de vertebrado foram registradas pelas câmeras em seis ninhos, a maioria em apenas uma ou duas ocasiões. 

Foram registradas seis espécies de passarinho (da ordem Passeriformes), que normalmente se encontravam forrageando ou empoleirados em galhos próximos ao ninho, e 15 espécies de aves de maior porte, incluindo outras aves de rapina e urubus, que normalmente se encontravam forrageando ou comendo carniça no ninho. 

Seis espécies de mamíferos foram observadas, todas forrageando dentro ou perto do ninho: tamanduá-mambira (Tamandua tetradactyla), irara (Eira barbara), jupará (Potos flavus), cuíca-lanosa (Caluromys lanatus) e duas espécies de macaco-prego (Sapajus cay e S. apella). 

Dez das 20 espécies de maior tamanho já haviam sido registradas como presas de gavião-real. 

Apesar de que algumas das espécies visitantes são predadoras, não foi registrada a predação de ovos ou filhotes de gaviões-reais. Não foram registradas espécies visitantes durante as fases de incubação e de presença constante dos filhotes no ninho, quando o risco de ataque por parte dos gaviões parentais, que podem ser muito agressivos, é muito alto.

Além de nove eventos de gaviões-de-penacho (Spizaetus ornatus) em cortejo próximo a um dos ninhos de floresta, os visitantes mais frequentes foram mambiras (12 eventos) e iraras (6 eventos), sempre no ninho da área de cerrado. Este ninho era o de localização mais baixa (14 m), o que pode ter contribuído para a maior frequência de visitantes. 

Foram registrados três encontros diretos entre gaviões-reais e espécies visitantes no ninho da área de cerrado. Em um caso, uma irara subiu até o ninho quando o casal de gaviões estava em cortejo e manteve um display agressivo (veja a imagem) até que as aves foram embora. Nas duas outras ocasiões, um macaco-prego (Sapajus cay) visitou o ninho. Na segunda ocasião, o indivíduo foi predado por um dos gaviões-reais, enquanto procurava comida em um orifício do galho. O macaco parecia ser um juvenil, o que explicaria sua falta de experiência para avaliar o risco a que se expôs.

O estudo forneceu a primeira evidência documentada de comensalismo em um ninho de gavião-real por parte do urubu-da-mata (Cathartes melambrotus) e do urubu-rei (Sarcoramphus papa) (veja a imagem), que foram registrados pilhando restos de presas em dois dos ninhos monitorados na floresta. 

Os autores estimaram o risco de predação a que as espécies visitantes se expuseram com base na frequência de visitação e na abundância das espécies na região. Mambiras e macacos-prego tiveram o maior risco estimado, sugerindo que o risco de predação ao acessar um ninho de gavião é maior para as espécies mais abundantes localmente.

O uso de ninhos de gavião-real por outras espécies para alimentação e/ou refúgio sugere a existência de uma complexa rede de interações interespecíficas centradas no microhabitat formado pelo ninho. O ninho mais visitado foi o localizado na área de cerrado, que está submetida a um processo de fragmentação, o que gera uma distribuição irregular de recursos. É possível que, nestas circunstâncias, os gaviões-reais, como grandes predadores e construtores de ninhos, exerçam uma função de engenheiros ecossistêmicos.

O projeto de doutorado de Helena Aguiar Silva junto ao PPG-Ecologia-INPA foi orientado por Tânia Sanaiotti e co-orientado por Ana Albernaz (MPEG).

A imagem de manchete mostra um urubu-rei (Sarcoramphus papa) sobre uma carcaça de preguiça-bentinho (Bradypus tridactylus), que um dos gaviões parentais trouxe para o filhote no ninho. A outra imagem mostra uma irara (Eira barbara) confrontando agressivamente um adulto de gavião-real que estava em cortejo sobre o ninho. Os gaviões deixaram o ninho, mas a irara também se retirou logo depois. As imagens são de câmeras automáticas do Projeto Gavião-Real

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