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Cantando na chuva? Como morcegos amazônicos respondem ao ambiente

Publicado: Quarta, 09 Outubro 2019 Foto: Giulliana Appel

Já se sabe que a luz da lua afeta a atividade de morcegos amazônicos. Nas regiões temperadas, a temperatura condiciona a atividade de morcegos, pois o frio leva as espécies a hibernar, para poupar energia e calor. Em florestas tropicais, no entanto, a temperatura varia pouco, e a chuva é o fator mais variável. Na estação chuvosa, a chuva frequente de noite pode afetar a atividade de morcegos. Em sua tese de doutorado, Giulliana Appel procurou responder como a temperatura e a chuva, juntamente com a luminosidade lunar, influenciam a atividade de morcegos insetívoros aéreos em uma floresta da Amazônia central. 

Uma das perguntas foi se chuva no início da noite, quando os morcegos normalmente tem seu pico de atividade, faz com que eles fiquem mais ativos nas horas após a chuva, pois a chuva afeta a ecolocalização e termoregulação destes animais. A hipótese seria que os morcegos compensam o "tempo perdido" forrageando após a chuva. Os resultados obtidos foram publicados na revista Journal of Mammalogy.

Os dados foram coletados na Reserva Ducke, uma área de floresta de terra firme próxima a Manaus, onde existe uma grade RAPELD de trilhas e parcelas de amostragem padronizada do Programa PPBio. Para amostrar os morcegos, foram instaladas estações de gravação automática de ultrassom em 20 parcelas distribuídas na grade de amostragem durante a estação chuvosa de 2013. Os gravadores foram programados para gravar de 18:00 a 06:00 durante um total de 104 noites. Os chamados de ultrassom são específicos de cada espécie e, assim, é possível identificar as espécies de morcegos insetívoros a partir dos chamados gravados. Para avaliar a atividade dos morcegos, foi considerada a quantidade de registros de ultrassom de cada espécie por noite e por hora. Todas as análises foram feitas em nível de espécie, devido à variação nas estratégias de forrageio e uso de habitat entre as espécies. Os dados climáticos (temperatura e precipitação) foram coletados de uma estação climática que fica localizada dentro da reserva. 

Durante as 104 noites, foram registrados mais de 15.000 chamados de 17 espécies de morcegos insetívoros aéreos, mas apenas sete espécies, registradas em pelo menos 12 parcelas e 20 noites, foram selecionadas para a análise de atividade.

Das sete espécies analisadas, a temperatura afetou positivamente a atividade de Saccopteryx bilineata e Cormura brevirostris. A maior atividade durante noites mais quentes provavelmente esta relacionada à disponibilidade de insetos, pois ordens como Diptera, Lepidoptera e Hymenoptera são mais ativas em noites quentes. Fêmeas lactantes e grávidas são mais sensíveis a perda de temperatura, optando por forragear em noites mais quentes, e, na estação chuvosa, estas duas espécies estão em período reprodutivo. Nenhuma espécie teve sua atividade afetada significativamente pela variação de chuva entre noites. 

Duas espécies (Saccopteryx leptura e Pteronotus rubiginosus) foram mais ativas em noites de maior luminosidade lunar, quando provavelmente estão à procura de insetos que são mais ativos em noites claras. Myotis riparius, que é uma espécie de vôo lento, diminuiu sua atividade com a luminosidade lunar, indicando uma possível vulnerabilidade à predação em noites claras. 

A chuva é conhecida por afetar a atividade dos morcegos, porém a chuva fraca no início da noite não interrompeu a atividade da maioria dos morcegos ao longo da noite. O pico de atividade no início da noite foi observado tanto em noites sem chuva, quanto em noites com chuva. Isso indica que a chuva fraca não é limitante para o forrageio, e provavelmente também não afeta a disponibilidade de insetos. 

A maioria das espécies não aumentou sua atividade após a chuva, exceto Saccopteryx leptura, que quase quintuplicou sua atividade após chuva em comparação com noites sem chuva. Pteronotus rubiginosus, ao contrário, diminuiu o tempo de atividade após a chuva em comparação com noites sem chuva. Isso pode se dever a que essa espécie se alimenta de lepidópteros, que reduzem sua atividade na chuva, porque a água danifica suas asas.

Os gráficos são do artigo de Giulliana, e mostram a atividade de cada espécie (número de registros por hora) em noites sem chuva e noites com chuva durante o período de pico de atividade de cada espécie.

Os resultados demonstram que as respostas dos morcegos aos efeitos das condições climáticas e da luminosidade lunar variam de espécie para espécie. Pequenas variações na temperatura entre noites são suficientes para acarretar mudanças na atividade de algumas espécies. Chuva fraca influencia a duração da atividade em poucas espécies, o que é bem compreensível, pois, durante a estação chuvosa na Amazônia central, chove quase todos os dias, e é esperado que os morcegos insetívoros aéreos sejam adaptados a estas condições. Em estudos futuros, será necessário medir a chuva e a temperatura em escalas mais locais, para avaliar a variabilidade microambiental entre as parcelas de amostragem. Também é importante analisar como as variações climáticas em escalas temporais longas, incluindo eventos de mudanças climáticas, podem influenciar o comportamento de forrageio destes morcegos. 

O projeto de doutorado de Giulliana Appel no PPG-Ecologia-INPA é orientado por Paulo Bobrowiec e co-orientado por Christoph Meyer. Giulliana pode ser contactada em giu.appel@gmail.com.

A imagem mostra uma fêmea de Saccopteryx sp. com seu filhote. 

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